quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Cláudia Leite se fudeu....


Recebi o email:

Curto e grosso: Cláudia Leite não quer um filho gay como eu, porque gaysofre muito. Sem problemas, eu também não quero uma filha gonçalenseimitando baiana, clone eterna da original e verdadeira estrela morena, dequem ela será para sempre, sombra. É que este tipo de menina hetero sofremuito. Bobagens à parte (o que atesta o nível de inteligência daargumentação), o fato é que querer filho gay, independente do nívelintelectual, ninguém quer. E como não tem explicação plausível, é sópreconceito mesmo, recorre-se as mais mirabolantes fórmulas de explicação.Exemplo: eu, Milton, não quero ter filho pedófilo nem espancador de mulher,nem "maníaco do parque".Como eu explico isso? Eu odeio esta gente, acho psicopatia deplorável. E,sinceramente, ela acha gay deplorável, porque só pode ser gerado na barrigadas outras. Ainda na argumentação dela, o sofrimento gay, você conhecehetero que não sofre muito? Deus, os leucêmicos, os miseráveis infelizes nocasamento que passam a vida a fingir, os sem-grana em condições desumanas devida, os existencialistas que acham a condição humana um inferno? O problema é querer tipificar nós gays com um sofrimento exclusivo, isto étolice. Nosso sofrimento é a burrice humana que, hipócrita, acha que nossosofrimento é maior que, por exemplo, o das mulheres hetero, grupoextremamente marginalizado pelo machismo irracional que as escraviza emdependência econômica doméstica. Com certeza nós gays, sofremos. Mas o quedizer de vocês, heteros, nesta carnificina à qual vocês se submeteram?Tudo certo, tudo bom, vocês são os maiorais. Mas chegará o dia do juízofinal, quando à vocês será cobrado justiça e amor, e não julgamentos de dar
ou comer. Sofremos por estar neste tiroteio e pronto, como todo mundo.Também sofremos por nos sabermos indesejados por nossas mães (isto sim otiro de misericórdia em nós). Porque o vizinho nos indesejando?Sinceramente, cagamos pra isso. Queremos é ser criados com afeto e noção deamor paternal, para depois, crescidos e gays amados pelos familiarespróximos, irmos em frente dizendo: "não vem bancar pra mim o heteroresolvido que nós, gays, também viemos de uma família hetero e sabemos quesó muda de endereço, meu bem!".Eu, feto gay, repudio tuas considerações. O que faz um feto quando se senteindesejado?Se auto-aborta? Continua a gestação e parte para a luta? Fico pensando nosentimento dos fetos gays, que ouvem suas mamães dizerem "não desejo que meufilho seja gay porque vejo o preconceito que meus amigos gays sofrem, e istonão é nada bom". Eu, feto gay, um dia declarado por minha mãe nestas basesde raciocínio pouco generoso e mandão que agora Cláudia encarna, só possodizer que abandonei-a assim que pude. Porquê que minha mãe nunca meperguntou se mesmo gay, eu era capaz de uma amor imenso? Na sua torcida denão acreditar que eu era gay, minha mãe passou por cima da minha imensacapacidade de amá-la.Sempre a vi só como uma mulher mãe que gostaria de fazer desaparecer em mimminha homossexualidade. Mas eu só queria que ela entendesse que,independente de macho, gay, ou fêmea, as criancinhas são lindas porque nelaso universo se revela encantador e esperançoso. Mas não adiantou de nada.Elas só queria saber se eu daria ou comeria.Agora que ela está morrendo e pede para eu perdoá-la, só consigo pensar quea desgraça não é a morte dela, é eu ter sobrevivido à isto tudo.Mais fácil é bater as botas e dificílimo é continuar vivendo e ter quepensar em tanto desamor. Quantas mais terão que ser abandonadas pelo seusfilhotes, porque serão mães que acham que tem o direito de legislar sobre odesejo do filho? Cláudias Leites-mamães à parte, é preciso ser Miltons
Cunhas-filinhos, para falar de um outro ângulo, de uma outra visão.Indesejados, nascemos com este desejo homossexual, que não orgulha mamãe nempapai, e na explicação tosca deles, para o fato de não terem orgulho de nós,olhamos incrédulos para os imbecis genitores, com cara de "sinto muito, éisso e pronto, só me resta viver e morrer gay". Não adianta ir bem no colégio e tirar boas notas, não adianta ser bommenino, pois ainda assim alguns pais nos pedem (ou obrigam) a disfarçar, eparece que a hipocrisia os satisfaz mais que a verdade de transarmos com omesmo sexo, felizes e realizados. Quem são estes senhores e senhoras que nosaniquilam, que em nome de uma proteção maternal e paternal, querem que nãosejamos o que nascemos para ser? E pior que isto, torcem por tal ou talsexualidade, como se isto fosse direito deles. Somos seus filhos, portantouniversos independentes, e só cabe à nossos genitores, a torcida pela nossafelicidade. Em vez de declararem "quero meu filho pleno, bom caráter, capazde um amor imenso", tudo o que conseguem declarar é "ai, não, gay não, e nãoé por preconceito, não, é por pena do que eles sofrem!". Saiu de moda o antigo e assumido "prefiro assaltante que viado?". Achavamelhor esta frase.Escrevo tudo isto de madrugada, depois de encontrar Márcia Lávia,carnavalesca do Império Serrano, e, ao me apresentar seu filho gatoadolescente, na festa de lançamento do cd dos Sambas de Enredo, na Cidade doSamba, quando elogiei o garoto pela beleza e por parecer descolado, a mãedeclarou, em alto e bom tom, orgulhosíssima, "não, este é macho!". E aíparei para pensar: "quantas mães gritariam aqui sobre o filho não macho, ogay?".Nenhuma. Macho significa a resolução da dor. Vai comer todas e portanto serábem resolvido, bacana. Se gay fosse, iria passar por todo o calvário quetodos os gays amigos destas mães passam. Mas vem cá, não é um calvário ser
apresentado pela mãe orgulhosa como macho? O que isto subentende?O que isto embute? Deus que me livre ser macho nesta terra de machospit-boys que espancam humanos em boates, que puxam os cabelos das meninascom uma indelicadeza dignas de brucutu. Será que é o raciocínio destasmulheres que tem levados seus meninos à esta monstruosidade de comportamentocom as fêmeas?Portanto, aproveito esta coluna, para dizer para a deslumbrante mulher (enão a artista) Cláudia Leite: não espera daqui à sessenta anos para pedirperdão para teu filho. Assim que ele nascer, bate a descarga em todas estas tuas declarações, e, acada dia, reafirma teu amor incondicional e teu apoio à mais plenarealização que um humano pode almejar, que é ter caráter, ter espíritofraterno e saber que, transando com árvore, parede, periquito ou papagaio, agrande viagem humana é, através da própria vida, libertar o espírito dostolos preconceitos que tentam nos reduzir à meros orifícios. A alma não épequena, e, portanto, tudo valerá à pena.Mãe é aquela que pede saúde e paz para sua criança. O mais, pertencerá aoinsondável território do desejo.Inclusive daqueles desejos que dizem ser Ivete Sangalo a única, original,definitiva e verdadeira bombshell baiana. Tudo mentira. Tem espaço para tudoe todos.Até para os não desejados.Que a Nossa Senhora do Bom Parto te proteja, querida.Mesmo que ela seja gay, ou hetero, ou preta, ou índia!Milton Cunha, Porto da Pedra - Jornal o Dia.

Frase...


Money Talks Silence Pays